segunda-feira, 28 de julho de 2008

Carta n°13


12/06/07


Bento querido
Tu tens razão. Eu não domino as formas da poesia, e não soube dividir adequadamente os versos. Talvez assim melhore... mas não estou certa.O que achas?
Olha, estarei reenviando o retrato da Alma, do Guilherme num proximo e.mail (tenho que encontrá-lo).
Logo te enviarei mais notícias. Ainda estou embargada com a tua linda carta. Não mereço tantos elogios. Bem estou muito chorona ultimamente, tu podes imaginar. E tu também me comoves, belo poeta com tua amizade a mim e reverência pela querida Alma.

Um grande beijo da
Lucia
PS- Fala-me mais de ti... Que idade tens? És casado,
tens filhos? Ainda não sei muito de ti nesse sentido. Mas já sei que és uma alma límpida.



Um cântico para Alma Welt
(poetisa, irmã, imortal)
por Lucia Welt

A macieira floriu, a tua macieira,
mas foi por ti desta vez.
Não posso dizer que os pássaros já não voam
cantando na tua pradaria: eles o fazem por ti!

Por ti, doce Alma deste pampa, as coisas permaneceram
para serem dignas de ti e fiéis para sempre.
Tua cascata ainda chora a visão da tua nudez deslumbrante
sob a água, pálido nenúfar, alabastro puro ou Carrara milenar.
Teus cabelos flutuando de ruiva medusa
e teus lábios frios no último beijo do teu perdido irmão...

O "gaucho” te trouxe desvelada e tão alva,
nos braços pela campina esvoaçante e em susto
para depositar-te na grande mesa na tua vigília nua.
E agora a mesa recende o teu aroma
e divisamos teu formoso corpo no branco das toalhas.

Sei que esta noite virás como todas as noites desde então
para mostrar-me algo que teima em não desvelar-se
ante meus olhos enevoados de chorar por ti.

Sempre me ofuscaste com teu brilho,
perdoa-me pois,irmã, não compreender.
Só posso amar-te, nunca pude mais que isso...
e não estava lá para poupar-te do abraço
da outra branca dama que em tua inocência ansiavas.

Nunca pude preservar-te...
eras demasiado sagrada para mim
para ousar defender-te da vida
e da morte como bem desejaria,
pois reinavas e reinas ainda nestas pradarias
do teu Pampa sublimado pelos teus versos imortais.

Pouco precisaste de mim e maior honra me fizeste
(que não merecia) ao te joelhares para beijar-me as mãos
quando te prometi silêncio um dia.

Agora tudo fala e canta por ti, poeta e musa deste Sul,
que já me honravas em demasia
em voltar ao mundo como minha irmã.
Como ser poeta para cantar-te como mereces?
Não posso,não alcanço. Todavia percebo:
a Natureza o está fazendo, por mim, por nós,
para sempre.

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