segunda-feira, 28 de julho de 2008

Carta n°9


Bento querido, encontrei também este e.mail devolvido à minha caixa, e por via das dúvidas (será que tu o já o recebeste?) estou reenviando (ele é anterior) ao último. (ai! estou meio louca...)

Oi Bento

Recebeste a minha resposta ao teu lindo poema dedicado à Alma? Estou tão grata!...
Olha, pretendo voltar ao Sul na semana que vem. Recebi um recado do delegado Benotti sobre as investigações da morte da Alma, e estou muito inquieta. Ele disse que prosseguiu com exames no local, e até fez um policial mergulhar para recolher a pedra e a corda no fundo do poço da cascata, onde ancoravam o corpo da Alma. E que o exame da amarra e do laço revelou nós de boiadeiro. Saberia a Alma fazer esses nós? Não sei... A grande pedra e a corda foram enviadas para laboratório. Estou estarrecida. Além disso ele descobriu que a toalha de mesa que Matilde usou para cobrir o corpo da Alma quando absurdamente já estava sendo velada nua, foi guardada sem lavar por ela numa sua arca, como uma relíquia sagrada da sua adorada guria. E lê diz que a investigação policial científica evoluiu muito e a mínima nódoa pode conter DNA do assassino e ser comparado ao de um suspeito detido, quando houver. Ai! Bento tudo isso me parece escabroso, e deprimente.

Bah! Eu queria era por um ponto final nisso tudo, e por uma grande pedra em cima do assunto. Ai!... Queria poder pensar na Alma em seus vestidos vaporosos, colhendo flores no nosso jardim, com as crianças, alegres os cinco, cheios de risos cristalinos, imagem inesquecível de beleza e ternura. Mas não sei se vou agüentar o que pode vir dessa investigação... Tenho medo, Bento, tenho medo de não agüentar!

Bem, Bento, desculpa-me essas confidências. Temo aborrecer-te, tirando–te dos pensamentos e temas poéticos caros a ti, e relacionados ao teu lindo Vale. Lá no nosso Pampa, na estância, prevalece agora aquele “vale de lágrimas”, de que minha mãe falava e não lhe dávamos ouvidos.


Até breve meu amigo poeta, se costumas rezar, reza para que a nossa Alminha tenha paz...

Um beijo da

Lucia

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