segunda-feira, 28 de julho de 2008

Carta n°33


Bento querido

Eu não quero ser internada. A doutora está justamente aqui na estância, porque não poderia me tratar, fazer uma terapia,se for o caso? Ela, no entanto diz que nada poderá fazer com o Rodo por aqui . Ela disse assim: " Lucia, tu estás sob uma forte influênciada Alma, dentro de ti. Tu, num nível semi-consciente queres te transformar na tua irmã idolatrada. Tu queres ser a Alma. Em nivel consciente seria fácil tratar, mas o nível inconsciente é bem mais profundo e remonta à primeira infância de vocês. Tu a tinhas e tens como uma verdadeira deusa. E a maneira que encontraste, em termos quase orgânicos de incorporá-la é se entregando, sendo possuída e inseminada pelo irmão de vocês
Bento, é verdade, a minha dor não passa, saber minha irmã assassinada depois de martirizada... Tenho que conhecer a dor dela, seu sofrimento e... seu prazer!Tu achas que estou ficando louca?
A doutora diz que a Alma foi uma das personalidades mais poderosas que ela jamais conheceu. Uma grande artista cuja arte permeava tudo o que ela tocava, a começar por sua vida.
A pessoas tinham instintivamente o impulso de cultuá-la, a começar por sua beleza física extraordinária, que se somava à beleza interior, cheia de doçura, generosidade e até uma desconcertante candura numa moça tão inteligente e culta. Ela era Psiqué rediviva e o mundo não sabe o que perdeu. Seu nome indicava isso, Anima Mundi, alma feminina do Mundo. A doutora ainda disse:" Lu, também eu amava a tua irmã. Eu me apaixonei por ela lá na clínica e por isso a segui, aceitando o convite de vocês para vir tratá-la aqui, continuar sua terapia dessa forma irregular, na casa, no lar de vocês. Eu não conseguia mais ficar longe dela. Eu a tive inúmeras vezes em meus braços, eu a amei carnalmente e isso foi a maior glória da minha vida! Seu corpo seus beijos, seu sexo era o paraíso, Lu, eu sei. E por isso não posso mais ser terapeuta de ningúem e me restrinjo agora a escrever minhas memórias onde, decidi, vou confessar tudo".
Como vês, Bento,não poderei contar com a doutora Jensen como médica, e não posso nem admitir aquela clínica sem ela. Não esqueço o que a Alma sofreu ali, para chegar a fugir numa odisséia que ela contou nas suas cartas à Andrea. A sua relação física com a doutora, pelo menos o início dela, ela contou na crônica "Minha doutora Jensen", que está lá no Leia Livro.
E agora Bento, suspeito que a doutora não quer me tratar porque sabe que aquilo se repetirá comigo. Ela acabará reconhecendo a Alma em mim, e cairemos nos braços uma da outra e faremos amor, também, carnal, ardente. Ela é uma mulher bonita com quase sessenta anos e começo a pensar, imaginar, olhando seu corpo com atenção a todo momento. E percebo que ela me olha muito, sim, meu corpo, e senti o jeito com que ela passou a pomada nas minhas partes íntimas, não como a uma guriazinha. Eu percebi a sua sensualidade, e sua mão tremia.

Bento, nada posso fazer pela minha irmã. Não posso vingá-la, pois não tenho a vingança dentro de mim. Só posso seguí-la, sofrer por ela e como ela, e ser possuída pelas pessoas que a amaram e a tiveram em seus braços, que a possuiram com doçura ou mesmo com vigor, senão com violência. Sim, quero reviver a Alma e morrer gozando e sofrendo nos braços dos seus amados ou espetada como uma borboleta no imenso pênis sangrento de um amante exaltado. Quero que me rasguem ao meio e libertem a minha Alma!

Tua Lu, que ama e sofre

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