segunda-feira, 28 de julho de 2008

Carta n°11


Bento querido,
tomei coragem e escrevi isto para a amada irmã.
Temo que não gostes... quem sou eu para escrever um cântico para a grande poetisa? Se não gostares não me digas, que morro de vergonha...



Um cântico para Alma Welt
(poetisa, irmã, imortal)
por Lucia Welt

A macieira floriu,
a tua macieira,
mas foi por ti
desta vez.
Não posso dizer
que os pássaros não voaram
cantando na tua pradaria:
eles o fizeram por ti!
Por ti, doce Alma deste pampa,
as coisas permaneceram
para serem dignas de ti
e fiéis para sempre.
Tua cascata ainda chora
a visão da tua nudez deslumbrante
sob a água,
pálido nenúfar
alabastro puro
ou Carrara milenar.
Teus cabelos flutuando
de ruiva medusa
e teus lábios frios no último beijo
do teu perdido irmão...
O ‘‘gaucho” te trouxe desvelada
e tão alva, nos braços
pela campina esvoaçante e em susto
para depositar-te na grande mesa
na tua vigília nua.
E agora a mesa recende
o teu aroma
e divisamos teu formoso corpo
no branco das toalhas.
Sei que esta noite virás
como todas as noites desde então
para mostrar-me algo
que teima em não desvelar-se
ante meus olhos enevoados
de chorar por ti.
Sempre me ofuscaste
com teu brilho,
perdoa-me pois,irmã,
não compreender.
Só posso amar-te,
nunca pude mais que isso...
e não estava lá para poupar-te
do abraço
da outra branca dama
que em tua inocência
ansiavas.
Nunca pude defender-te...
eras demasiado sagrada para mim
para ousar defender-te da vida
e da morte
como bem desejaria.
Pois reinavas e reinas ainda
nestas pradarias
do teu Pampa sublimado
pelos teus versos imortais.
Pouco precisaste de mim
e maior honra me fizeste
(que não merecia)
ao te joelhares
para beijar-me as mãos
quando te prometi silêncio
um dia.
Agora tudo fala e canta por ti
poeta e musa deste Sul,
que já me honravas em demasia
em voltar ao mundo
como minha irmã.
Como ser poeta para cantar-te
como mereces?
Não posso,
não alcanço.
Todavia percebo:
a Natureza o está fazendo
por mim,
por nós,
para sempre.

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